Hercule Florance

05:22 Postado por Geremias Pignaton


Com a vinda de Dom João VI e a transferência da coroa portuguesa para o Rio em 1808, o Brasil foi invadido por expedicionários europeus, sobretudo naturalistas, para conhecer nosso riquíssimo e imenso pedaço de chão.

Entre esses expedicinários, está o alemão naturalizado Russo, Langsdorff.

Naquela época, a Rússia era uma potência europeia sob o Czar Alexandre I.

Langsdorff era cônsul russo no Rio de Janeiro.

O Czar financiou a expedição de Langsdorf pelo interior do Brasil.

Para começar, ganhar experiência, ele explorou, saindo do Rio, as Minas Gerais, enquanto organizava uma expedição maior com objetivo de explorar o Pantanal e a Amazônia.

Naquele exato momento, surgia o Estado Brasileiro com o Grito do Ipiranga. Devido esse conflito político, questões de reconhecimento de um novo país, questões de estabilidade interna, a expedição sofreu um atraso.

Naquela época, não havia fotografia e essas expedições levavam desenhistas e pintores que eram de importância vital para a documentação da exploração científica.

Inicialmente, durante a exploração em Minas, o desenhista da expedição era Rugendas, uma alemão que tem uma obra vastíssima sobre aqueles tempos.

Depois, brigado com Rugendas, Langsdorff contratou dois jovens desenhistas franceses, Adrian Taunay e Hercole Florance, ambos, na época, com vinte e poucos anos.

Em 1825 partiram na expedição com destino ao Pantanal e a Amazônia. Partiram de Santos, passaram por São Paulo ( na época com 12 mil habitantes), pegaram o Tiête, transpuseram-se para a bacia do Paraguai no Pantanal, passaram por Cuiabá e atingiram a Bacia Amazônica, terminando a viagem em Santarém e Belém.

O objetivo inicial era sair na Venezuela, no Orenoco, explorando também as Guianas, mas Langsdorff ficou louco, perdeu as faculdades mentais e a expedição retornou.

Toda a documentação sobre a expedição ficou perdida em arquivos na Rússia, só foram redescobertos um século depois, na década de 1930, quando foram trazidos ao conhecimento dos brasileiros.

Visitei, esta semana, uma exposição sobre essa expedição aqui em Brasília e, pelo interesse despertado, estou lendo um livro chamado "Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas". É o Diário do desenhista e pintor Hercule Florence, traduzido e editado pelo escritor Visconde de Taunay, sobrinho do desenhista Adrian Taunay.

Abaixo transcrevo um trecho do livro que é um dos mais belos relatos de história deste nosso país.


"Caminhamos meia légua para o interior em trilha um tanto larga e limpa e atravessamos uma mata de árvores altas que deitavam espessa sombra. Num ponto descampado, achamos alguns pés de bananas com cachos ainda verdes e uns mamoeiros, cujos frutos na ocasião me souberam deliciosamente. Cortando depois uma campinazinha ao sair da mata, chegamos à aldeia, que é composta de 10 palhoças e nas quais não havia viva alma por se acharem os índios nas suas plantações à margem do Sucuriú. A casa do chefe era maior que as outras. No meio delas via-se um rancho que parecia pertencer em comum. Ali estavam uns troncos de palmeira furados, que lhes servem de tambores nos seus dançados. As portas daquelas acanhadas choupanas fechavam por meio de laços de cipós. Entramos em algumas delas e mal nos demos, pois quando menos cuidávamos, vimos uma multidão de pulgas subirem-nos pelas calças, o que nos fez sair com toda presteza. Enchemo-nos também de bichos, espécie de pulga de menor tamanho que se introduz na carne, aí forma um saco onde deposita ovos em quantidade e, se não é extraída, toma volume de um grão de milho. Quando sai, deixa um buraco redondo e fundo. Esse incômodo e nojento inseto acha-se por todo o Brasil, pelo menos na parte intertropical. Haja pouca limpeza e cuidado, e o bicho produz feridas dolorosas, como acontece com os negros novos, cujos pés, lugar atacado de preferência, ficam cheios a ponto de não lhes permitir mais andar".



Hercole Florence, depois da expedição, viveu como fazendeiro em Campinas -SP, até a década de 1870, onde casou-se e constitui família. Muitos, inclusive gente de fora do Brasil, atribuem a ele a invenção da fotografia, feito realizado ao mesmo tempo que seu conterrâneo Daguerre, com técnica mais apurada e com o nome de "photografie". Ou seja, se não foi o inventor da técnica, ao menos do nome o foi.

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